A pesquisadora americana Marion Nestle, uma renomada especialista em nutrição, destacou os desafios que a indústria alimentícia impõe aos pais na educação alimentar de suas crianças. Durante uma visita ao Brasil, ela comentou sobre como a publicidade direcionada a produtos alimentares afeta a percepção das crianças sobre o que devem consumir. Segundo Marion, muitos alimentos são projetados para serem irresistíveis e acabam sendo ultraprocessados, dificultando a tarefa dos pais de ensinar hábitos alimentares saudáveis.
Em sua visão, quem consome “comida de verdade” e evita produtos ultraprocessados não precisa se preocupar excessivamente com a ingestão de nutrientes como vitaminas, minerais e proteínas. Ela afirma que é possível ter uma dieta saudável simplesmente comendo uma variedade de alimentos minimamente processados. Marion elogia a tradicional refeição brasileira de arroz, feijão, carne e salada, ressaltando que é uma combinação equilibrada e nutritiva, desde que consumida em quantidades adequadas.
Marion Nestle possui uma longa carreira acadêmica, com doutorado em biologia molecular e mestrado em saúde pública. Ela é autora de vários livros e contribuiu para diretrizes alimentares nos Estados Unidos. Em suas pesquisas, ela relaciona o consumo elevado de alimentos ultraprocessados a problemas de saúde, como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Ela aponta que estudos mostram que as pessoas que consomem muitos alimentos ultraprocessados tendem a ingerir mais calorias do que aquelas que optam por alimentos minimamente processados.
A especialista também discutiu o impacto de alimentos ultraprocessados que são rotulados como “saudáveis”, como barras de proteína e snacks. Embora reconheça que ocasionalmente esses produtos possam ser consumidos, ela ressalta a importância de não deixar que esses alimentos dominem a dieta. Para uma alimentação balanceada, o ideal é que a maior parte das calorias venha de alimentos inteiros ou minimamente processados.
Nos rótulos dos alimentos, Marion elogiou a clareza das informações disponíveis no Brasil, destacando que os ingredientes estão listados de forma clara e que há rótulos de advertência sobre a quantidade de açúcar e gordura. Ela sugere que seria útil ter um rótulo específico para alimentos ultraprocessados, facilitando a escolha dos consumidores.
Em relação à alimentação das crianças, Marion enfatizou a importância de expô-las a uma ampla variedade de alimentos desde cedo, para que possam desenvolver paladar e apreciação por diferentes sabores e texturas, além do açúcar. Ela acredita que as crianças devem consumir os mesmos alimentos que os adultos, porém em porções menores e com menos adição de açúcar e sal.
A especialista também comentou sobre a recente redução do limite de alimentos ultraprocessados em escolas públicas no Brasil, de 15% para 10%. Embora ela considere essa uma boa medida, gostaria de entender melhor como isso é implementado na prática.
Por fim, Marion observou mudanças no comportamento alimentar das pessoas com a popularização de medicamentos para tratar obesidade, como Ozempic e Wegovy. Segundo relatos de usuários, esses medicamentos ajudam a reduzir a fome e o desejo por alimentos ultraprocessados, impactando positivamente os hábitos alimentares.
































